As notas emitidas ecoavam por todos os cantos do Ginásio Erni Pereira Alves e com elas, a voz marcante e inconfundível esteve por uma hora e meia em desacordo total com a condição de saúde e física,visivelmente abalada pelo Diabetes e testemunhada pela multidão, número superior a 3 mil expectadores que emocionados, reconheceram através de gritos e aplausos,não só o talento mas a garra,profissionalismo e acima de tudo, a capacidade de superação para conduzir o espetáculo até o fim.
Desta forma, o argentino mais brasileiro da cultura sul-americana,Dante Ramon Ledesma, escreveu seu nome na Semana Farroupilha de Piratini, num show de arrepiar e que entra para a história do evento com o mais marcante da edição e um dos mais emocionantes que ate hoje pisaram o palco do Rio Grande.
Ao desembarcar no camarim, a informação partiu do próprio que as limitações poderiam atrapalhar mas não o impediriam de subir ao palco palco para encerrar a quinta noite da programação.
Magro,abatido e com extrema dificuldade para se locomover,Ledesma não dispensou a ajuda de duas pessoas para subir os poucos degraus que davam acesso ao público.
Já nele, a batida no violão, marca registrada e reconhecida em toda América Latina, anunciou que a noite seria um desafio pessoal a ser vencido.
Entre uma canção e outra, pausas imprescindíveis na intenção de retomar a energia através de longos goles d’água e num esforço emocionante, arrancar a cada gesto e declaração,aplausos da massa: ”A vida sem luta para mim, não significa nada”, após emitir essa frase que resumia a batalha para continuar ali, a música América Latina ganhou o coro de milhares de vozes e quando o refrão: ”vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz na hora não espera acontecer”, do clássico “Pra não dizer que não falei das flores”, de Gerado Vandré, foi cantado por todos, Dante deu por encerrada sua missão, saindo de cena como chego: amparado e já sem forças.
A equipe médica foi chamada e, sentado no camarim, o teste de glicose e medição da pressão arterial, serviu de decisão para o encaminhamento imediato ao Pronto Socorro do Hospital Nossa Senhora da Conceição, onde depois de medicado, permaneceu em um dos leitos cercado apenas pela tecladista, uma funcionária da Prefeitura e um amigo.
Horas depois do susto causado pela crise de hipoglicemia, o cantor símbolo da América Latina foi liberado.
Nael Rosa - Jornal A1ª Folha
Foto: Dione Rodrigues
Foto: Dione Rodrigues