No cenário, na maioria do tempo tranqüilo e silencioso, o que em seus visitantes causa entre outras, a sensação de extrema de paz,eles encaram a missão de administrar e dar manutenção a centenas de túmulos e jazigos,com muito bom e humor, mas cientes da responsabilidade que a profissão impõe.
Quando a reportagem do 1ª Folha, já no interior do Cemitério Municipal de Piratini, questionou um visitante de como poderíamos encontrar o coveiro,ouviu ecoar uma voz em alto em bom tom que exclamou: ”Coveiro não,Administrador do Cemitério!”
A correção foi o inicio de uma conversa descontraída com Denerval de Lima Xavier, encontrado rapidamente em uma das alas quando concluía uma exumação de rotina, processo que consiste na retirada das chamadas “gavetas”, os restos mortais após o tempo máximo permitido pela prefeitura.
Aos 50 anos e há 14 atuando como coveiro ou como prefere, administrador, Xavier também observava o aumento significativo da movimentação em seu local de trabalho. ”Nessa época que antecede o Dia de Finados, muita gente vem fazer limpeza e preservação dos túmulos”. Bem humorado, o funcionário revela que não escolheu a profissão e que inclusive no inicio da carreira tida por muitos como mórbida,compartilhava da mesma opinião. ”Eram muitos comentários com relação a cemitério.No princípio, fiquei meio assombrado mas hoje ta tranqüilo e já aconteceu até de ter que fazer sepultamentos a noite”, relembrou Xavier entre muitos risos. ”Eu sou um cara nervoso mas curiosamente aqui no cemitério me sinto tranqüilo”, completa.
Não muito longe dali, encontramos Estevam Silva Santos, 60 anos, o mais antigo dos coveiros.
Já aposentado após duas décadas auxiliando na as vezes árdua tarefa, Estevão, de posse de uma lata de tinta e trincha, renovava uma das sepulturas.”Já me aposentei mas nessa época retorno e faço uns bicos particulares”, conta Santos, referindo-se a trabalhos encomendados também por familiares que gostam de manter a última morada dos seus entes sempre limpa e organizada.
Mas dele, ouvimos também que a profissão proporciona momentos emocionantes. Mesmo sendo algo rotineiro, Estevão revela que ele seus colegas já foram muitas vezes atingidos pelo clima de comoção durante as cerimônias finais. ’Eu me esforço para não externar minha emoção mas as vezes é impossível não chorar, principalmente quando são crianças que partem”, confessou, afirmando ainda que mesmo sendo raro, já consolou familiares nas horas de dor.
O mais novo do sorridente trio, Valfredo Crespo, 52 anos e 11 na função, bem que tentou mas foi impossível lembrar, quando o questionamos, quantos sepultamentos já realizou. As vezes faço até três por semana mas depois de tantos anos, não há como saber”, disse Crespo, que revelou não ter muita simpatia quando o assunto é exumação. ”Faço mas as vezes é meio complicado pois achamos que está na época e quando abrimos os túmulos, temos algumas surpresas." contou.
Atuar no sepultamento de um amigo de juventude e companheiro de Exército, está entre as recordações mais difíceis. ”As vezes saímos daqui e vamos para casa chateados e até magoados, mas é nossa profissão”, conclui.
Nael Rosa - Jornal A 1ª Folha