O PRIMEIRO MUSEÓLOGO DE PIRATINI

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O Município de Piratini, conhecido como Primeira Capital Farroupilha e terra natal de Barbosa Lessa, tem seu primeiro museólogo. É o jovem piratiniense Augusto Duarte Garcia, conhecido como Guto, com 24 anos de idade, filho de Mário Conceição Duarte Garcia e Jacila Neli Duarte Garcia. 
Tive a alegria de entrevistá-lo sobre o significado de sua formatura, ocorrida no mês de julho deste ano, em Museologia pela Universidade Federal de Pelotas.
1) Fale sobre sua formação escolar desde a alfabetização.
Bom, eu iniciei a primeira série em 1993, com seis anos e meio, na Escola Estadual Professora Inácia Machado da Silveira e lá fiquei até concluir o ensino fundamental, em 2000. Em 2001 ingressei no ensino médio pela escola Ponche Verde e concluí em 2003. No ano seguinte, resolvi ingressar no Ensino Normal (Magistério), na mesma escola que fiz o médio. Não cheguei a concluir, pois em junho ou julho de 2006 (não lembro) fiz o vestibular de inverno da Universidade Federal de Pelotas(UFPEL) e passei. E no dia 23 de outubro do mesmo ano iniciei o primeiro semestre no curso de museologia. 
2) Por que escolheste Museologia? 
Para falar a verdade, não sei se fui eu quem escolheu, ou se foi o curso, ou o acaso. Pois em dezembro de 2005 já tinha feito o vestibular para o curso de História e minha intenção era tentar novamente no final de 2006, só que na época tinha saído extraoficialmente que iria ter o curso de História no vestibular de inverno da UFPEL, então me preparei para esse vestibular, porém não saiu, mas saiu um curso novo, o de Museologia. Daí, acabei me inscrevendo para esse mesmo. Bom, pelo que vi dos meus colegas, foi exatamente isso que ocorreu com eles também, pois tinha gente que queria entrar na História, na Biologia, no Direito, Jornalismo. Mesmo encontrando um número muito grande de pessoas que não era interessada no curso, a coordenação do curso não se mostrou assustada, pois era a primeira turma do estado, o terceiro curso de museologia em universidades federais. Na real, isso não influenciou muito no número de formandos, pois dos 30 que entraram 14 se formaram e 3 estão atrasados mas ainda cursando, ou seja, só 13 abandonaram. No curso de Economia, por exemplo, chegam a se formar só cinco ou seis alunos por ano, e a Informática pode ser menos. A própria História tem turmas menores, sendo que entram 50 alunos por ano.
Mas o que queria dizer é que mesmo não tendo um interesse no curso, no momento que entrei, acabei me “apegando” à profissão, é uma área em crescimento e poder participar da criação de um curso e ser um dos primeiros profissionais, abrir espaço pros que vêm depois é uma oportunidade que não se pode deixar escapar, é uma sensação incrível.
3) Fale sobre o Curso de Museologia oferecido na UFPel (duração, número de cadeiras) e quantos cursos existem no Brasil.
O Curso na UFPel tem a duração de quatro anos, com 4 a 8 cadeiras por semestres(contando optativas) e cadeiras obrigatórias, dá um total de mais de 25 cadeiras, mas essas informações podem estão melhor explicitadas no site do curso, http://museologiaufpel.wordpress.com/. Como já disse, é o terceiro curso em universidades federais, o número total fica em torno de 11 ou 10 cursos. Têm dois aqui no Estado (Pelotas e Porto Alegre) mais dois na Bahia, um no Rio de Janeiro, Brasília, Ouro Preto, Pará, Sergipe, Goiás e outros.
4) Como foi sua vida acadêmica nos aspectos de apreensão de conhecimentos e de convivência com colegas, educadores e instituições?
Nestes quase quatro anos na faculdade, o Museu Histórico Farroupilha foi importantíssimo, pois foi pesquisando ele que eu integrei um projeto de pesquisa sobre os museus da zona sul do estado, onde organizei (em conjunto com a direção do museu e da coordenação do curso) um seminário sobre patrimônio, onde fiz meu estagio e também foi tema de meu trabalho de conclusão de curso.
A experiência no convívio com colegas e professores foi igualmente importante, o curso é muito bem servido de professores, são acessíveis, na maioria doutores e com grande experiência na área do patrimônio. Os colegas agiram muitas vezes como facilitadores em trabalhos e em outras tarefas pelas experiências que eles traziam, além das amizades que se criam. 
5) Como é o campo de atuação para os museólogos?
O campo é promissor, no Estado do Rio Grande do Sul existe mais de 300 museus e recém agora estão saindo os primeiros 13 museólogos. Lógico que já há profissionais trabalhando no Estado mas é um número pequeno. Além de muitos não serem especializados, não tem o bacharelado em museologia ou uma pós-graduação. Além disso, existe a possibilidade de trabalhar com consultoria, que, basicamente, é realizar documentação de acervo particular ou montar exposição para empresas, avaliar obras etc. 
6) Fale sobre o processo de reconhecimento da profissão de museólogo. 
A profissão é reconhecida por legislação deste 1985. O primeiro curso surgiu no Rio de Janeiro em 1937 no Museu de Belas Artes, e o nome era Escola de Museus. Porém para mim o maior marco é a aprovação da lei do Estatuto dos Museus e a criação do Instituto Brasileiro dos Museus, em 2009. O estatuto prevê regras que os museus devem cumprir, caso contrário poderão sofrer punições, mas também prevê privilégios aos que cumprem. E o Instituto é um órgão ligado ao Ministério da Cultura (Minc) e tem o dever de proteger e fiscalizar os museus brasileiros.
Estas duas novidades são o resultado de uma política recente que privilegia a criação de museus e a profissionalização dos trabalhadores. È um dos motivos que me fazem crer numa área mais ampla e com um maior reconhecimento da comunidade. 
7) Quais as dificuldades encontradas durante o curso?
A primeira dificuldade foi pelo calendário que sofria a influência da greve da UFPel de 2004, tivemos aulas em janeiro e fevereiro de 2007. Outro foi a biblioteca que tinha poucos livros na área, além da distância de casa. Mas posso dizer que sou um privilegiado, apesar de meus pais serem pessoas simples, com salários modestos, eles me proporcionaram o luxo de poder me preocupar apenas com o estudo. Isso me ajudou muito, por isso não tenho o que reclamar. Assim, minhas maiores dificuldades foram dadas pela própria universidade. Mesmo assim, o curso proporciona uma estrutura muito boa, principalmente de professores e possibilidades, envolvimento em projetos de extensão e pesquisa, o que alivia os problemas clássicos encontrados numa universidade federal.
8) Como é sua concepção de um museu ideal?
O museu tem como obrigação procurar estreitar sua relação com a comunidade da qual faz parte, trazendo informação e esclarecimento. Porém o museu é uma instituição mais complexa que trabalha com a pesquisa, a conservação e com a comunicação que deve ser usada para a educação e o lazer da população, trazendo uma maior reflexão sobre a própria sociedade mas também diversão. Além de ser um agente de mudança social na questão da economia, através do turismo.
9) Fale sobre sua experiência no momento da formatura como museólogo.
É muito prazeroso o momento, é o fim de um ciclo, quatro anos em busca de um objetivo, quando se alcança é como se retirasse um peso das costas, porém, aí é que vem o verdadeiro trabalho...
10) Quais seus planos profissionais?
Agora, quando receber o meu registro profissional ficarei esperando pela convocação de um concurso que passei em primeiro lugar e tentar entrar no mestrado de História da UFPel, pois através do Mestrado posso buscar o magistério superior, passando num concurso para uma universidade. Além da felicidade, acabamos também buscando uma estabilidade, um concurso público pode proporcionar isso. E como tenho um sonho de formar novos museólogos, parte de minha felicidade pode ser alcançada também.
Obrigado pelo espaço, espero que seja útil para que os leitores tenham uma maior compreensão sobre a museologia e os museus.

Reportagem: Juarez Machado de Farias.
Foto: Nádia Mussi. 
 
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